Edgar: para o alto, avante e além
Pupillo zapeou e parou na TV Cultura. Passava o programa "Manos e Minas". "Fiquei encantado com o que vi: um cara com um figurino diferente e usando temas com abordagens típicas de quem vive as contradições da era digital", diz o baterista da Nação Zumbi. O rapper estava pintado de azul, vestia roupas rasgadas, um farrapo amarrado na cabeça e tinha maquiagem no rosto que destacava adornos brancos; disparava um conteúdo lírico com rara sagacidade, um roteiro de cinema em forma de rimas, um projetor de slides frenético que mistura cenas de violência doméstica, embriaguez, delírio, astrologia, consciência social, física quântica, teatro… Que artista é esse? Pupillo foi atrás, adicionou no Facebook, tomou canseira e finalmente rolou: "bóra trampar junto".
Desde essa aproximação há três anos, Edgar já decolou. Após uma longa trajetória independente em palcos e gravações, 2 discos e 2 EPs gravados, várias músicas e clipes, ele agora se prepara para lançar o disco "Ultrassom" pela gravadora Deck Disc no segundo semestre e a primeira faixa do projeto já foi divulgada. "Plástico" é uma pancada em qualquer ouvido instigado: clipe e música preveem um apocalipse não muito distante, com Uber sem motorista e comida 3D. Além disso, muita gente se deparou com suas rimas na música "Exu nas Escolas", uma parceria do rapper com o compositor Kiko Dinucci presente no último disco de Elza Soares, "Deus é Mulher".
Agora é esperar o voo: Edgar há de flanar tranquilamente nas nuvens do rap brasileiro, conquistar mais e mais público, para o alto, avante e além. Talento, visão, boas ideias e companhias ele tem de sobra. Ele se apresenta hoje e amanhã na Casa de Francisca com o repertório de "Ultrassom" e temos a chance de conhecer as músicas que farão parte do álbum. Além de Pupillo nas batidas, a banda conta com o músico belga David Bovee e o show terá a participação da cantora Céu. "Fizemos esse trabalho com ideias baseadas em cinema e trilha sonora. É um roteiro com métrica e trilha, sem perder a poética. A maioria das músicas trata deste problema, deste cenário do qual não estamos nada longe", conta Edgar, já antecipando que "Ultrassom" segue o ambiente de ficção científica da faixa "Plástico". "Uma das músicas fala sobre o uso de câmeras GoPro nos capacetes dos soldados em missão de guerra, para que as imagens seja utilizadas em jogos de videogame mais realistas."
O trabalho com Pupillo começou em 2016. "É um dos melhores produtores da atualidade, ganhador de Grammy e tudo mais. Lá pera terceira música que estávamos gravando, foi que eu pesquisei o nome dele no Google. Eu não sabia com quem estava envolvido", diz. "Ele acrescentou mais ritmo do que nunca à minha música e está me ajudando a explorar melhor minha voz: usar o falsete, aprender a cantar, o fôlego e a troca do agudo para o grave."
Atualmente com 26 anos e morando na região da Praça da Árvore (zona sul de SP), o artista nasceu e cresceu em Guarulhos. Foi nas caminhadas pela quebrada que surgiu a ideia de desenvolver o próprio figurino. "Eu sou um pulmão no rolê: inspiração e aspiração de todos os lados. Jogava bola até ela furar e depois fazia um chapéu com a câmara de ar", explica. "No meu quarto, sempre tinha lixo eletrônico produzido na loja do meu irmão que arruma celular. Nas favelas e terrenos baldios sempre encontrava artefatos de todo jeito pra não perder a imaginação."
O futuro apocalíptico narrado por Edgar é uma ótima trilha sonora para o presente.
Vai lá:
Edgar
Quando: 27 e 28 de junho, às 21h30
Onde: Casa de Francisca – R. Quintino Bocaiúva, 22
Quanto: R$ 35,00
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